sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Com carinho...

Queridos amigos,


Foi com muita alegria que recebi este lindo presente da minha querida amiga e maninha do coração Gaby (http://uma-doce-melodia.blogspot.com/). Maninha querida, muito obrigado por se lembrar de mim e por toda a atenção que você dispensa a tudo o que escrevo!

Primeiro Selo:






Regras:

1º Repassar o selo para 15 blogs;
2º Avisar para cada blogueiro que receber;
3º Responder as perguntas.

Então vamos às perguntas, né?


Nome: Lucas Rafael Jardim
Uma música: The man who can't be moved - The Script
Dez coisas sobre mim:

1- Ler, escrever e ouvir música, são coisas fundamentais na minha vida. Se não tiver os três, não sou nada.
2- Amo a natureza e as coisas simples da vida.
3- Não faço o tipo cidadão do mundo. Viajar não é o tipo de coisa que me fascina.
4- Sou louco por chocolate (Mas quem não é, né?)
5- Embora possa parecer o contrário - e por mais clichê que isso possa soar - ainda acredito que o mundo pode sim, se tornar um lugar melhor e mais justo pra todos. Acho que só precisamos aprender a nos enxergar no próximo. Se enxergássemos no próximo o nosso próprio coração, com certeza não haveriam tantas lágrimas no mundo. Afinal, quem em sã consciência é capaz de magoar e ferir a si próprio?
6- Sou nostálgico. Gosto de revisitar o passado. Somente as coisas que foram boas, que fique bem claro!
7- Sou inconformado com a facilidade com que as pessoas se perdem umas das outras.
8- Detesto areia da praia. Pisar nela, só com bota sete léguas!
9- Gosto de me dar um minuto para meditar, rezar, agradecer por todas as bençãos e pelo simples fato de estar nesse mundo, uma verdadeira escola.
10-Gosto das reticências. Aqueles três pontinhos, sabe? Numa lista tão pequena como essa, só deixando mesmo subentendido o quanto me maravilha o fato de viver e de gostar de tantas coisas em tão pouco tempo...

HUMOR: Como todo mundo, tenho meus altos e baixos. Às vezes acordo achando o dia radioso, às vezes cinza e agourento. Mas no geral, procuro encontrar o lado positivo de tudo. Gosto de fazer as pessoas rirem e, mesmo quando estou de mal-humor, não deixo transparecer e muito menos fico dando patada em quem não tem culpa...
UMA COR: Preto (Porque faz a gente parecer menos gordo!) ou Azul.
COMO PREFERE VIAJAR: Sem sair do lugar. Eu sei que é outro clichê, mas pra quem não considera a possibilidade de entrar num avião e muito menos num navio, com a imaginação a viagem é bem mais segura, né?
UM SERIADO: Ghost Whisperer. Acho o máximo ela ajudar os mortos a fazerem a travessia. Particularmente, adoraria ter esse dom...
PALAVRA MAIS DITA POR MIM: Putz! Mas dependendo da situação, algumas são até impublicáveis! (Brincadeirinha!)

E então, o que achou do selo? Eu adorei.

Passo esse selo para os blogs:

sábado, 1 de janeiro de 2011

Borboletas no estômago (Parte Final)

O corredor que ia dos quartos até a sala era relativamente curto, mas me pareceu ter léguas de distância. Naquele momento, eu me sentia como na final de um torneio de futebol interclasses da escola. Numa expectativa e numa ânsia quase que desesperada em saber o resultado final de tudo aquilo. Receoso de que, um passo em falso dado, pudesse comprometer tudo para sempre, que acabasse com qualquer chance que eu tivesse.
Parecia ridículo comparar uma declaração de amor com um torneio de futebol da escola, mas era com essa perspectiva que eu encarava aquele momento. A descarga de adrenalina que eletrizava todo o meu corpo, me empurrando pro lance final. "Coragem, Marcelo!" reboou mais uma vez aquele grito de incentivo dentro de mim, como se me empurrasse por aquele corredor. Minha confiança estava nas alturas. Meu desejo de abrir o coração me fazia o mais forte e valente dos caras. Nada podia me impedir. Nada. Até que...
- Oi... - Disse ela, abrindo aquele sorriso lindo.
Estaquei assim que a vi. Putz, ali estava ela... Sentada no sofá, com os livros e cadernos no colo. Cabelos ainda molhados do banho recém-tomado, aquele olhar vívido que era capaz de me desnortear num centésimo de segundo.
- O-oi, Carina... - Retribui o cumprimento, não conseguindo conter a gagueira.
Ela largou os livros e cadernos sobre a mesinha de centro, se levantou e veio me abraçar, dando logo em seguida um beijo estalado na minha bochecha. Alguma coisa em meu estômago estremeceu. Fiquei desnorteado, como se quisesse entender o que estava acontecendo comigo. "E a coragem? Cadê?" a pergunta explodia dentro de mim. Mas nada. Aquele grito que me empurrava pelo corredor a poucos instantes, havia se calado. Talvez porque assim como eu, ele também amava tanto aquela menina, que já não estava tão certo assim de que devesse contar tudo logo de uma vez... Que talvez, o mais correto, fosse ficar em silêncio...
Cara, como eu queria dizer tudo ali, naquele momento! Eu aproveitaria aquele abraço tão gostoso e diria: "Carina, eu amo você!" E ela, emocionada e com lágrimas nos olhos, responderia: "Jura? Eu também!" Aí, nada mais precisaria ser dito ou explicado. Só...
- Marcelo! - Chamou Carina. E eu senti que ela estava deixando os meus braços. "Como eu queria que esse abraço durasse a vida toda!" Pensei.
- Hã? - Perguntei meio abobado.
- E então? Vamos começar? - Ela propôs.
"Começar a namorar?" Pensei, sentindo o peito arfando. "Claro! Claro que sim!"
- Aceito. - Respondi num sorriso meio débil.
- Aceita o quê? - Perguntou ela achando graça.
- Ora, nam... - Mas não continuei. Meus instintos e minha vergonha me brecaram na hora. Balancei a cabeça como se quisesse acordar de um sonho e perguntei: - Desculpa, Carina... Começar o quê, mesmo?
- A aula particular, ué! - Respondeu com espanto. - Não foi pra isso que você me chamou?
Senti como se tivesse sido sacudido.
- Ah... Isso... - Não pude disfarçar o desânimo.
- Ué, pra que mais seria? - Perguntou ela com estranheza.
Fiquei calado por alguns instantes. "Pois é, Marcelo! Pra que mais ela viria aqui? Pra ver os seus lindos olhos? Ou pra ver como o seu aparelho deixa você com uma boca igual a de um orangotango?"
Eu conhecia bem aquela voz que começava a brotar dentro de mim. Uma voz bem diferente daquela que dizia "Coragem, Marcelo!" Era uma voz que tentava me colocar pra baixo. Me fazer parecer menor do que eu pensava ser. Não tive dúvidas. Antes que ela crescesse dentro de mim, antes que ela brecasse toda e qualquer tentativa de contar tudo o que eu sentia pra Carina, respirei fundo e disse:
- Carina, você... - Minha voz tremeu e eu forcei um pigarro a fim de torná-la mais forte. - Você se incomoda da gente deixar a aula pra depois?
- Aconteceu alguma coisa? - Quis saber ela, pondo a mão em meu ombro. E eu senti aquele formigamento se apossando de mim novamente. - Você não me parece bem...
- A gente pre... - A gagueira quis me deter, mas depois de um novo pigarro, continuei firme: - a gente precisa conversar... - Meu ar sério fez ela assumir uma expressão preocupada.
- Claro... Pode falar. - Disse ela.
- Aqui, não... - Falei notando que a segurança de instantes atrás, começava a voltar. - E se a gente fosse dar uma volta na praça aqui perto?
- Por mim, tudo bem... - Concordou.
Peguei a minha chave que ficava sobre o aparador e fui saindo, com a Carina bem do meu lado. Aquele perfume gostoso dos cabelos dela me deixava zonzo de tanta paixão. Ela começou a contar alguma coisa, sobre não sei o quê. Não consegui captar uma palavra sequer do que ela dizia. Só conseguia sentir o som doce da voz dela. Só conseguia admirá-la. Só conseguia pensar no quanto eu seria feliz se ela me aceitasse, se ela fosse minha. Em como seria bom se, hoje à noite, na hora em que a minha mãe chegasse do trabalho, eu pudesse contar que a Carina e eu estávamos namorando. Ou em como seria melhor ainda se, amanhã nós fôssemos juntos no Bananarama com o Ricardo e a Flávia...
Por mais que todas aquelas possibilidades que eu estava cogitando não passassem de um mero sonho, de uma doce e irresistível ilusão, ainda assim me faziam um bem enorme. Me ajudavam a sufocar dentro de mim aquela voz irritante que tanto insistia em me pôr pra baixo, em me fazer desistir. Eu ainda não fazia idéia de qual seria o resultado daquela conversa que nós teríamos na praça. Se ela ia me aceitar, recusar, ou se ia ficar com raiva quando lhe contasse que vi - sem querer - as iniciais escritas naquela página da agenda dela. A única coisa que eu realmente sabia - e da qual eu nunca tive tanta certeza na minha vida como naquele instante - era que, eu não podia esconder mais nada. Nem dela e muito menos de mim mesmo. Abrir o peito na direção dos canhões, como eu li num poema outro dia na classe. Esperançoso de escutar o "sim", tentando ficar preparado para ouvir o "não"... O que não cabia mais em mim e no vocabulário do meu coração, era o "quem sabe", o "talvez" e muito menos o "será?" Já estava colocando a chave na fechadura, pronto pra fechar a porta, quando a Lurdinha apareceu de lá da cozinha e sorrindo, disse baixinho:
- Boa sorte!
Eu devolvi o sorriso, agradeci também baixinho e, confiante, fechei a porta.
* * *
Nós já havíamos atravessado um bom pedaço da praça Luís de Camões, quando a Carina resolveu perguntar:
- Tá acontecendo alguma coisa, Marcelo? Tipo, alguma coisa muito séria mesmo?
Eu que, até então estava em silêncio olhei pra ela. De uma maneira profunda, como nunca olhara antes pra ninguém.
- Por quê? - Quis saber.
- Ah, sei lá... - Disse meio que dando de ombros. - Você anda meio esquisito...
- Esquisito, como? - Perguntei olhando ao redor. Observando as árvores, as poucas pessoas que passavam por ali, os carros entupindo as ruas...
- Esquisito como agora! - Disse com certa impaciência. - Eu aqui falando, falando e você nem aí... Enquanto a gente tava vindo pra cá eu te contei um monte de coisa e você só no "Hum-hum", "Pois é", "Arrã"!
- Desculpa, Carina... - Pedi sem jeito. - É que eu tava pensando em tanta coisa...
Ela me deu um tapinha no braço.
- Podia ter avisado então, seu mala! Assim eu não gastava saliva! - E dizendo isso, riu gostosamente.
Como eu amava aquele riso! Aquele hálito que parecia tão fresco e convidativo, aquele branco puro dos dentes dela... Ela tão linda, tão perto e acessível e eu ali, quase um zumbi, sentindo meu cérebro fervilhando na ânsia de encontrar uma maneira de começar aquela conversa tão necessária, tão urgente. Olhei pra ela com uma certa tristeza. Como se eu a estivesse vendo pela última vez. Como se tudo estivesse prestes a mudar de uma forma radical e irremediável. Uma guinada de cento e oitenta graus. Aquele pensamento não me fez sentir vontade de voltar atrás e desistir. Mas me fez entender que aquele era um momento onde, qualquer palavra mal empregada, qualquer atitude impensada e não calculada, poderia estragar tudo. Carina percebeu meu olhar pesaroso e num outro tom, continuou:
- Não, mas agora falando sério, Marcelo... Conta pra mim o que tá acontecendo, vai? Se eu puder te ajudar de algum jeito...
Nos sentamos num banco de madeira bem no centro da praça. Eu continuava com o cérebro fervilhando, calculando as variáveis, pesando prós e contras, mas acho que a situação era bem mais complicada que um cálculo matemático. Sorri meio vago, tentando demonstrar uma tranquilidade que não possuia. Tentando aparentar serenidade, quando estava em cólicas. Respirei fundo, mandei a lógica e a razão à merda e optei pela emoção. Olhei fixamente pra ela e comecei:
- Carina, você... - Respirei mais uma vez. Meu estômago parecia ferver. - Alguma vez acordou e se deu conta de que, alguma coisa, por menor que fosse, estava errada com você?
- Ih, isso vive acontecendo, Marcelo! - Disse ela despachada. E achando graça, emendou: - Quando eu tô de tpm, então... Aí a coisa piora! - Ela se recostou melhor no banco e continuou: - Mas acho que faz parte, né? É coisa da idade, como diz a minha mãe...
- O que eu quero dizer é... se alguma vez, você passou a ver as coisas ou... - Me senti querendo gaguejar. Pigarreei. - ...alguém de... de uma outra maneira...
- Ah, sei lá, Marcelo! Acho que sim... - Respondeu. E tirando da bolsinha um pacote de chicletes, pegou um pra si e me ofereceu: - Quer um?
- Quero sim... Valeu. - Peguei o chiclete, desembrulhei e o enfiei de uma vez na boca. Mascando furiosamente, fazendo um ruído tão forte que senti os ouvidos zumbindo. Aquele instante de silêncio me fez repensar na abordagem a ser feita. Saboreei por mais alguns segundos o gosto bom de hortelã e, ainda decidido em agir com a emoção, cuspi o chiclete longe e falei: - O que eu tô tentando dizer, Carina é que... é que eu tô me sentindo assim...
- Assim como, Marcelo? - Perguntou entre uma mascada e outra.
- Assim, como se tudo estivesse errado comigo, caramba! - Ela franziu a testa, espantada com o meu tom de voz meio ríspido. Me dei conta da mancada. - Desculpa... Eu não tô falando coisa com coisa...
- Tá sim... Você só não tá conseguindo encontrar o jeito certo de falar... - Disse decidida. E me olhou de um jeito, como se soubesse exatamente o que eu estava tentando dizer. Por um breve instante, eu senti como se estivesse completamente nu e todos os olhos estivessem voltados pra mim. Me levantei, com vontade de sair correndo dali, mas não consegui dar um passo. Me virei novamente e olhando fixamente pra ela, prossegui:
- A minha vida tava tão calma... De casa pra escola, da escola pra casa... Passar a tarde na frente do computador jogando ou conversando no msn... Tudo parecia tão encaixado, tão esquematizado e... eu já tava tão acostumado com isso...
- E...? - Perguntou me olhando ainda sem entender. Tomei um novo fôlego e continuei:
- E então, eu acordei um dia e, percebi que alguma coisa tinha mudado... Que, mesmo fazendo as mesmas coisas de antes, tinha uma outra muito mais forte, que ficava martelando na minha cabeça... Ocupando o meu coração...
Ela franziu a testa novamente, como se quisesse entender.
- Eu não sei quando foi que isso aconteceu, te juro, Carina... Não sei se foi durante a aula, ou em alguma festa que eu tenha ido... Ou, pode até ser que, isso brotou dentro de mim da noite pro dia... - Dei uma risadinha, tentando descontrair. - Tem coisas que a biologia explica e... tem outras coisas que, a gente nunca consegue explicar...
- Mas você pode sempre tentar... - Ela se levantou e, sorrindo da maneira linda que sempre fazia, continuou: - Eu não sei bem o que tá acontecendo com você, mas a gente pode encontrar a solução junto e...
Putz, será que não tinha caído a ficha? Será que ela não conseguia ler nas entrelinhas? Ou será que eu estava complicando demais uma coisa que era simples de falar? (Bom, nem tão simples assim...) Antes que ela continuasse e tentasse dar uma de psicóloga, reuni todas as forças que tinha e disparei:
- Carina, eu amo você...
Pronto. Simples, direto e, por incrível que pareça, me proporcionou a sensação de tirar um peso de vinte toneladas do peito. Ela se calou e, eu percebi que suas bochechas começavam a corar. Ela não desviou o olhar, como eu esperava. Ficou me observando. Meio envergonhada, meio espantada. Como se fizesse força pra entender aquele cara - que ela conhecia a vida inteira - ali, diante dela e dizendo que a amava. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, antes que ela pudesse balbuciar uma palavra que fosse, eu continuei. Mais seguro que nunca:
- É... - Disse confirmando com a cabeça. - Eu amo você, Carina... Como eu nunca esperei amar ninguém... Sabe... desde o dia em que eu percebi que sentia isso, minha vida não foi mais a mesma... É como se eu estivesse sempre com uma sensação de bolo na garganta, como se o meu estômago estivesse cheio de ar, ou de...
- ... borboletas? - Ela completou ainda meio sem jeito.
- É... - Concordei num sorriso. E continuei: - O lance é que, eu não paro mais de pensar em você... Tudo o que eu tento fazer ou dizer, parece sem sentido... É uma vontade de rir, de chorar, de pular de alegria e, ao mesmo tempo, de querer se encolher de tristeza... Porque, eu sei que no fundo, eu nunca vou ter você... Não como eu realmente queria...
- O que você tá querendo dizer com isso? - Perguntou com estranheza.
- O que eu quero dizer, é que... - Senti um bolo se formando na minha garganta. - ...é que eu sei que você não me ama... Que nunca vai poder corresponder ao que sinto e que...
- E que...?
Sem querer encará-la, abri o bolso do meu bermudão, tirei de dentro dele a agenda e entreguei pra ela. Carina sorriu de felicidade:
- Você achou minha agenda! Que bom! - Ela abraçou a agenda, como se estivesse também tirando um peso de vinte toneladas do peito. - Nossa, Marcelo... Você não sabe o sufoco que eu passei! Só de pensar na possibilidade de não encontrar mais essa bichinha aqui... - Carina acalentava a agenda como se de fato, ela fosse um bichinho muito frágil. - Valeu mesmo... Só eu sei o quanto essa agenda significa pra mim...
- E eu também... - Disse num muxoxo sentido e sem-jeito.
- Como assim? - Ela estranhou.
Agora vinha a segunda parte. E talvez a mais difícil. Mas, para quem já tinha conseguido falar sobre os próprios sentimentos, o que mais eu poderia temer?
- Hoje, logo depois do almoço, quando eu fui entregar a agenda na tua casa, eu, sem querer - Fiz questão de frisar bem aquelas duas palavras. - descobri uma coisa dentro dela...
Carina arregalou os olhos, numa perplexidade que eu já esperava.
- Des... - A voz dela falhou. - descobriu uma coisa? Você tá querendo me dizer que andou fuçando na minha agenda, é isso?
- Não. Fuçando, não... - Me defendi. - Eu disse que descobri sem querer...
- Ah, é? E como foi esse "sem querer"? Sim, porque a agenda não se abriu sozinha e ficou se mostrando pra você, né?
- Pode parecer ridículo, Carina... mas foi mais ou menos isso o que aconteceu... - Disse meio constrangido.
- Ah, me poupe, Marcelo! O que mais você descobriu "sem querer"? A frequência do meu ciclo menstrual, os horários dos cursos que eu faço? Em qual ginecologista eu vou?
A voz dela veio tão carregada de indignação e ironia, que percebi que, se havia alguma esperança pra nós dois, ela morrera ali, naquele instante, com o meu súbito ataque de honestidade. "Viu só? Vai ser honesto, vai! Agora toma, palhaço!" Aquela voz irritante, que me botava sempre pra baixo, parecia se divertir com o meu sufoco. Decidi ignorá-la mais uma vez. Continuei:
- Não... - Respirei fundo e fui pegar a agenda das mãos dela. Carina recuou, como se estivesse defendendo a cria. Antes que ela pudesse protestar, prossegui: - Me empresta ela só um pouco, por favor? Eu quero te mostrar o que eu descobri...
Carina me entregou a agenda meio a contragosto. Comecei a folheá-la, tentando localizar aquela maldita página que tantos problemas me trouxe. Fiz isso com calma, aproveitando pra contar pra ela como eu havia feito a tal "descoberta sem querer". Omiti toda aquela lenga-lenga que aconteceu comigo no elevador, contando somente do tombo que levei na escada até o momento em que a agenda se abriu. Senti aquela expressão irritada em seu rosto suavizando, à medida que ia contando tudo. Era como se, no fundo no fundo, ela estivesse acreditando em mim. Isso me deixou mais tranquilo. Assim que encontrei a página, estendi a agenda novamente pra ela.
- ... foi quando eu encontrei isso... - Disse concluindo a minha explicação, mostrando aquele coração ridículo, com aquelas iniciais ridículas ali desenhadas.
- Ah... Foi isso... - Carina pegou de volta a agenda e observou aquelas duas iniciais escritas tão lindamente. Suas bochechas coraram furiosamente e ela então, virou de costas pra mim, ainda encarando aqueles dois "cês".
- É... Foi isso... - Disse repetindo. - Ai então eu, fui pro meu quarto não sei como, chorei o que pude e o que não pude, certo de que você era pra mim uma causa perdida e... aqui estamos nós, né?
Carina sentou novamente no banco de madeira, ainda observando com certa tristeza aquelas iniciais. Ainda sentindo vergonha por ter tido seu "segredo" descoberto. Antes que ela tentasse dizer alguma coisa, antes que ela confirmasse o que eu já sabia, eu me adiantei:
- Tudo bem, Carina... Eu... - Senti minha voz tremer. - ...eu só quero que você saiba que, não foi minha intenção invadir a tua privacidade, descobrir alguma coisa que não fosse da minha conta... Eu queria do fundo do coração que, você me desculpasse, tá?
- Não, de boa, Marcelo... - Disse num sorriso meio triste. - Eu é que sou muito exagerada, mesmo...
- Não, você tá certa em ficar pê da vida comigo... Eu não tinha esse direito. - Expliquei.
- Já disse, Marcelo... Tá de boa... Eu, não tô brava com você... Não mais. - Disse ainda com um sorriso triste. Eu me sentei do lado dela, já esperando pela recusa, pelo "não" redondo e definitivo. Não pude deixar de comentar:
- O mais irônico nisso tudo, é que até bem pouco tempo atrás, eu achava que tinha alguma esperança... Achava que, você também sentia alguma coisa por mim... Aí, vem um Cristiano Labate da vida, e acaba com tudo em menos de dois segundos...
- Cristiano Labate? - Ela não entendeu. - O que o Cris tem a ver com tudo isso, Marcelo?
"Cris"? O negócio era mais sério do que eu pensava. Tanta intimidade, tanto mel na voz... "É, Marcelo... Conforme-se." Disse pra mim mesmo, já sentindo os olhos ardendo. Mas eu não ia chorar. Não ali, não naquele momento decisivo, onde tudo estava sendo posto em pratos limpos... Decidi continuar. Sei lá, talvez pra me conformar com a situação, ou então pra me torturar, ouvindo dos lábios dela que sim, ela gostava do Cristiano mais que tudo no mundo. Prossegui, apertando os olhos com força, evitando que as lágrimas pudessem escapar.
- Não é dele que você tá afim? Bom, pelo menos foi isso o que o Ricardo falou...
Ela teve um esgar de espanto e incredulidade.
- E desde quando o Ricardo sabe tanto assim da minha vida? - Ela começou a ligar os pontos. - Foi a Flávia, não foi?
- E agora importa quem foi ou quem não foi, Carina? - Perguntei. - O fato é que eu me enganei... Eu fiquei fantasiando com o que não existia... Fiquei esperando por uma coisa que, no fundo no fundo, eu sabia que nunca ia ter...
- Você é sempre tão certo assim das coisas? - Ela perguntou com os olhos querendo marejar.
- Não... Só de algumas coisas... - Respondi, sentindo o peso no peito e no estômago aumentar. - Das coisas que eu posso ter... e, das coisas que eu não posso ter... Você, Carina... - Senti uma lágrima fugindo pelo meu rosto. Estava doendo até os ossos ter de dizer aquilo, mas eu precisava continuar: - ...você é uma das coisas que eu nunca vou poder ter... E se, eu quis te trazer até aqui, abrir o coração e dizer o quanto eu te amava, não foi por ter alguma esperança de que você me aceitasse... Foi porque eu não podia mais continuar guardando isso dentro de mim... Por mais que me doa o seu não, vai ser bem melhor do que passar uma vida pensando no talvez... E eu quero continuar tocando a minha vida... Com ou sem você...
A essa altura, Carina também já estava chorando. Ela me abraçou forte e me deu um beijo na bochecha lavada de lágrimas. Ficamos assim algum tempo, sem nos importar com as pessoas que passavam e viam aqueles dois adolescentes ali, sentados, chorando nos braços um do outro. Eu fui me soltando dela devagar, como se ainda tentasse gravar na minha alma aquele cheiro tão doce dos cabelos e do corpo dela. Eu me levantei, sem conseguir encará-la. Ela não precisava dizer mais nada, não precisava dizer que não me aceitava. Eu já havia entendido. Com o coração minúsculo e dolorido, ainda consegui dizer, contendo o soluço:
- A gente se vê na aula...
Fui me afastando dela, sem olhar pra trás. Se olhasse, era bem possível que eu voltaria e a abraçaria novamente. Mas antes que eu desse mais um passo, ela se levantou do banco depressa e me chamou:
- Marcelo!
Me virei devagar. Ela estava enxugando as lágrimas enquanto dizia:
- Eu fiquei com o Cristiano...
"E por que você tinha que me falar isso?" Calei essa pergunta dentro de mim. Ela continuou:
- Mas foi só uma vez e já faz um tempo... - Explicou se aproximando. - Ele é crianção de tudo, não quer nada com nada... Mas eu curti ficar com ele. Ele se tornou um bom amigo...
- Que bom... - Falei, num suspiro sentido.
- Mas não a ponto de colocar a inicial do nome dele numa página da minha agenda... - Disse me olhando fixamente.
- Que legal, Carina... - Disse torcendo a boca contrariado. E me fazendo de forte, me esforcei num sorriso amarelo e sem-jeito dizendo: - Pois então eu faço votos de que você seja muito feliz com esse cara do nome que começa com a letra "C"... "C" do quê? De Carmelo? Cássio? Capistrano? Cassiano? - E tentando assumir uma postura mais descontraída, brinquei magoado: - Cafajeste? Canalha?
Carina chegou mais perto e me olhando com firmeza disse definitiva:
- Não. "C" de Celo... Ou de Marcelo, se você preferir...
Peraí... Não... Pára tudo! O quê?
- Eu não... - Tentei articular, mas não consegui ir adiante. Carina respirou fundo e explicou:
- Ontem, enquanto eu tentava te explicar equações, eu resolvi abrir o jogo com você... Eu disse tudo o que queria dizer há um tempão...
- O... o que foi que você disse? - Quis saber com o coração aos pulos.
- Basicamente, disse que te amava... - Falou meio sem-graça. - Que de uns tempos pra cá, eu tinha percebido que você já não cabia mais na minha lista de amizades, porque eu já não te via mais como um amigo... Que por mais que isso pudesse abalar a nossa amizade, eu não queria continuar escondendo o que eu sentia...
- Você disse isso, mesmo? Que hora? - Perguntei confuso e sem entender.
- Naquela hora em que você ficou viajando, com cara de bobo... - Disse. - Você não tinha escutado uma palavra do que eu disse... Aquilo me deixou tão mal, que eu resolvi ir embora...
Eu tentava falar, mas só conseguia balbuciar pedaços de palavras sem nexo.
- Hoje de manhã, na hora do intervalo, quando você foi me procurar, eu pensei que fosse pra falar alguma coisa... Que você tinha ouvido tudo o que eu disse e que me aceitava também... Aí você veio com aquela história de pedir pra eu te ajudar com química, sei lá... Fiquei morta de raiva!
- E quando você virou as costas e o sinal tocou, eu gritei que amava você... - Completei conseguindo dizer algo que fizesse sentido.
- E eu não entendi... - Falou sorrindo daquele jeito lindo.
- Foi por isso então, que você ficou chateada quando perdeu a agenda e eu disse que tinha descoberto uma coisa nela sem querer? Porque tinha medo que eu descobrisse tudo? - Quis saber.
- Não... Eu gosto dessa agenda, porque foi a minha avó quem me deu. Aquela que morreu no começo do ano, lembra? Mãe do meu pai? - Explicou.
- Putz, é mesmo! - Disse caindo em mim.
Ela abriu um sorriso ainda mais lindo e falou já descontraída:
- E depois, se você fosse tão esperto assim, não teria achado que aquele "C" era de Cristiano, né? Me poupe, Marcelo! - Ela bateu com a agenda na minha cabeça, rindo divertida. Um riso limpo, puro, de hálito fresco e convidativo. Alguma coisa cresceu dentro de mim. Uma sensação de calor, de luz, de esperança, de felicidade... Eu senti vontade de gritar feito um louco ali, naquela praça! Subir nos bancos e cantar alguma coisa pra ela. Nem foi preciso. A poucos metros dali, em meio ao trânsito lento que entupia as ruas, algum doido - ou apaixonado também - ouvia a todo volume no rádio do carro, Need you know, do Lady Antebellum. Foi o que faltava. Segurei as mãos da Carina, que parecia me esperar pacientemente, me aproximei com delicadeza e, numa mistura de sonho, melodia, poesia e luz, senti o corpo todo tremer de emoção quando meus lábios tocaram os dela. Nos abraçamos e permanecemos ali, naquele beijo que parecia não ter fim. E eu queria que não tivesse! Mas eu também sabia, que não precisava ter pressa, ou medo que aquele instante mágico acabasse. Eu tinha agora a certeza de aquele, seria somente o primeiro de muitos momentos mágicos que viriam. Se alguém me perguntasse quanto tempo exatamente durara aquele beijo, eu não saberia responder. Acho que o tempo deixa de ter importância quando se ama. É como se os ponteiros do relógio não obedecessem a ordem natural das coisas. Como se um minuto, fosse uma vida inteira e uma hora, uma eternidade. Uma eternidade doce e apaixonante...
Daquele dia em diante, nunca mais senti as borboletas voando em meu estômago. Acho que elas se libertaram no momento em que o sonho se tornou realidade. Em que o impossível tornou-se possível. Talvez elas ainda estejam por aí... Voando na imensidão do céu azul. Esperando para irem se instalar timidamente num outro estômago. Num outro corpo. Num outro coração de alguém esperando para conhecer e sentir o amor...
Fim